domingo, 5 de outubro de 2008

O Sono das Águas

Há uma hora certa,
no me
io da noite, uma hora morta,
em que a água dorme
. Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d¿água,

nos grotões fundos.
E quem ficar acordado,
na barranca, a noit
e inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dor
mir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.

Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, tor
rentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem.
E adormece

até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas do
rmem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.

Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noi
te toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...

(Guimarães Rosa)

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